Vénus, amiga dos Portugueses , nunca deixa de vigiar os seus movimentos e de providenciar para que nada lhes falte. Observa-os com atenção e ternura e conclui que estão cansados após tanto terem resistido às ciladas e traições congeminadas por Baco. Também se dá conta de que envelheceram m muitos anos. Alguns ficaram com cabelos brancos e com rugas cavadas nas faces escurecidas pelo sol intenso daquelas paragens.
Agora, que empreendem a viagem de regresso a Portugal, bem merecem o descanso que há tanto tempo lhes é negado. A própria Vénus providencia que esse merecido repouso seja retemperador e inesquecível. Vénus cria, assim, com os seus imensos poderes, uma ilha flutuante que em nenhum mapa vem assinalada. A ilha flutuante, dita dos Amores, é colocada de tal modo na rota das naus, que elas não conseguem passar-lhe ao largo. Nesse pedaço de terra frondosa e perfumada tudo parece ter sido disposto e a contento dessas dezenas de homens exaustos e ansiosos por terem a costa portuguesa finalmente à vista. Nada ali faltava, nem frutos perfumados, nem plantas, nem flores frescas e viçosas, nem tão pouco lindas mulheres que mais não eram do que as ninfas convocadas por Cúpido para darem aos portugueses o afecto que há tanto tempo lhes faltava, vindo de doces mãos femininas.
As ninfas, também chamadas nereidas, obedeciam às ordens da mais bela e experiente de todas elas, de nome Tétis, que cumprindo as ordens de Cupido, tomou medidas para que os portugueses de longas barbas e corpos emagrecidos por longos meses de privação encontrassem tudo o que desejavam, incluindo aquilo em que nunca antes haviam pensado e, que ao desembarcarem em Lisboa, nunca mais iriam esquecer.
Foi a própria Tétis que agarrou na mão de Vasco da Gama e o conduziu ao cimo de um monte onde se avistava um assombroso palácio de ouro e cristal, ofuscante pelo seu brilho e grandeza. Nunca antes os portugueses tinham visto algo semelhante e estavam boquiabertos e deliciados com a hospitalidade inesperada. Se pudessem e se a ilha não fosse flutuante e inventada por Vénus, muitos nunca mais teriam querido sair daquele mágico pedaço de terra.
Foi no Palácio de Tétis que um grande banquete homenageou os portugueses e a sua glória seguindo-se-lhe vistosas danças e jogos que levaram os marinheiros a perseguir as nereidas para com elas poderem namorar. Mas elas, fazendo o seu jogo de sedução e fuga, quando estavam prestes a deixar-se apanhar, rapidamente se afastavam, aumentando o desejo de quem lhes seguia no enlaço para as afagar e as beijar, para delas se enamorar.
Foi inesquecível o banquete, servido em pratos de ouro, com Tétis e Vasco da Gama no topo da mesa. Foi um banquete à altura de verdadeiros heróis, já tornados lendas.
Chegou então o momento de Tétis conduzir Vasco da Gama ao cimo de um monte de onde se avistava uma miniatura do globo terrestre, estando nele assinalados os lugares onde, depois de descoberto o caminho marítimo para a Índia, os portugueses iriam fazer história.
Tétis começou a antecipar os feitos heróicos que os portugueses daí em diante iriam realizar. E não escapou a essa deusa bela e inspirada, um nome sequer de homem ou de terra descoberta ou conquistada. Era Vénus quem, comunicando com ela à distância, lhe dizia o que sobre os portugueses devia ser contado e cantado naquela hora.
“Chegaram como heróis e partem como heróis. E eu sei que os feitos que vos esperam hão-de engrandecer ainda mais o vosso nome, a vossa glória e o respeito que por vós sentem todos aqueles que conhecem a vossa história.” - Discurso de Tétis na despedida dos portugueses.
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